Todo assunto é pouco...

Imagine...

... ou se ele, tal qual no filme "Romeu e Julieta", do Bruno Barreto, se deparasse com uma situação na qual sua filha se apaixona por alguém que professa paixão diversa, interesses, crenças, amores e paixões distintas das dele?

... ou ainda se ele, durante uma conversa com um jornalista, notasse no (meu) colega um certo desânimo pelas tantas matérias já feitas, pelas tantas verdades que não pôde dizer, pelas tantas tramoias sabidas?

... e ainda depois disso, o time dele perdesse por acachapantes 6 a 0 pro rival e pior, a seleção do país dele saísse da Copa do Mundo na primeira fase?

... e depois da acachapante e humilhosa derrota, este homem que devotou sua inteira e miserável - porque não dizer efêmera - vida à essa paixão, sentisse leves pontadas no coração, indicando que a partir dali, um infarto estaria por vir?

... e num instante em que ele sentiu as pontadas, fechou os olhos e, quando abriu, estava numa cama de hospital público, uma vez que não tinha dinheiro para pagar por um plano de saúde?

... e que o infarto sofrido o impossibilitaria para o resto da vida de trabalhar, de sustentar seus vícios, suas paixões, seus amores e, como não podemos esquecer de detalhes tão pequenos, sustentar sua família?

... portanto, inválido, as únicas emoções que este torcedor conseguiria esboçar fossem as exprimidas por seus olhos, uma vez que o tratamento oferecido pelo governo não permitiu que bons cuidados fossem dados a ele?

... logo, inválido, infeliz e, finalmente, interessado, este camarada comece a se emputecer pelo fato de nunca ter se interessado por outra coisa que não fosse a agremiação do seu coração?

... e que este coração leviano, dias após o infarto, definitivamente parasse de funcionar?