Todo assunto é pouco...

São 18h do dia 24 de novembro cá no Rio de Janeiro, minha cidade natal, minha cidade atual. Geralmente é a hora santa, a hora em que os sinos das igrejas católicas tocam. Deve, sim, ser a hora em que os cariocas clamam pela proteção divina. A cidade acordou em situação calamitosa que resolveu-se chamar guerra, caos. Os arrastões, os veículos queimados, a gente ferida, os mortos. Coisa grave e séria. Mais polícia, quem sabe exército, bilhete deixado dizendo que com UPP não tem Olimpíada, babacas regozijando-se em piadas sem graça no Twitter, gente amedrontada, alguns tentando ganhar fama com uma pseudo-inteligência garantida por uma realidade bem afastada de tudo isso.

É coisa antiga, vamos convir. É coisa que há desde antes do Brizolla, lidar com tráfico, com bandido, pedir permissão ao Celsinho da Vila Vintém ou sei lá quem para o Michael Jackson subir o morro e gravar clipe que nem é usado na MTV americana. Ônibus são queimados com frequência, retaliações de moradores 'dacomunidade' já ocuparam o RJ TV desde antes da Claudia Cruz apresentar aquela bagaça. O Uê e o Escadinha já tocaram o terror com cordas bastante afinadas, dando origem ao termo crime organizado, mesmo que estejam dizendo que é 'sem lógica', configurando um dos poucos termos que tem pleno sentido e correto uso entre os tantos surgidos recentemente.

Nas redes, todos se cagam. Eu, você, a Leilane, o Beltrame, o Paes, a Paz... A culpa é do medo. A elite, emburrecida contraditoriamente pelo excesso de coisas, não está nem aí para a hora do Brasil. Não quer nem saber do Brasil, do Rio, de mim, de você. Caga-se, sim, quando o carro dela chegar a ser queimado. No entanto, isso não rolará. Porque o medo da elite é um medo que manda. A elite em hipótese alguma pode sofrer. Se tu tem dinheiro, rapá, tu não vai se foodehr. E o medo, mesmo, de verdade, é aquela história contada pelo vencedor. A elite está contando essa história. As autoridades falam em nome da elite, que é quem realmente deve ser protegida. É ela quem doa dinheiro para as campanhas eleitorais.

Se bem que, pobres são muito mais... E eles votam e fatalmente elegem. Mas então... Como é que os pobres, a anti-elite, não detêm o poder? Porque eles não têm medo. Pobre carioca, brasileiro, terceiromundista não tem tempo pra ter medo, pra assistir globonews, pra fazer piadinha ou pra tentar se mostrar pra outros no Twitter, no Facebook. Pobre tá lavando o chão, pintando o prédio, guardando a segurança do rico ou falando de futebol com outro pobre.

A menina bonita, advinda da elite, falou na TV que é provocação dos bandidos. Os políticos da oposição tentam se dar bem dizendo que os presídios federais são frágeis. Os da situação dizem que a situação está sob controle, mentindo. Os intelectuais dizem que medidas enérgicas devem ser feitas. Os pobres pedem mais UPP. A classe média não sabe o que dizer, ou está entocada em casa, rezando pro sino abençoá-la e livrá-la de uma tragédia. Os policiais também estão rezando ou apertando o gatilho.

Os ricos continuarão ricos quando esta guerra acabar. Os pobres continuarão pobres, talvez mais pobres.

A culpa é da alineção, que está por todo lado.